Atualização (16/9/16): Deixamos mais claro que os usuários têm 30 dias depois de verem pela primeira vez a atualização da política de privacidade do WhatsApp para concordar ou não com seus termos. Também deixamos mais claro que contas criadas após 25 de agosto ingressam no serviço sob a nova política de privacidade sem opção para negar o compartilhamento de dados que ela implica.

O WhatsApp está definindo práticas de compartilhamento de dados que sinalizam uma mudança significativa em sua atitude relacionada à privacidade — embora você talvez não adivinhasse isso com base na atualização da política de privacidade que apareceu nas telas dos usuários no final de agosto.

A nova política prepara o terreno para um alarmante compartilhamento de dados entre o WhatsApp e sua empresa-mãe, o Facebook. A tela de atualização que os usuários veem, porém, menciona apenas novos recursos benignos, como as chamadas via WhatsApp, e exige que o usuário toque em um link do tipo “Leia mais” para ver qualquer menção sobre como o arranjo do compartilhamento de dados funcionará para ele. Em vez de o WhatsApp oferecer aos usuários informações e escolhas logo de cara, a interface como se apresenta enterra detalhes e opções críticas. Se o WhatsApp quer fundir dados do usuário com o Facebook, ele deveria dar aos usuários oportunidades de fazer escolhas sobre sua privacidade — começando com uma interface mais clara e informativa.

Compartilhamento de dados mais amplo

Se antes o WhatsApp não passava informações do usuário ao Facebook ou vice-versa, a nova política de privacidade permite ao WhatsApp integrar diretamente alguns dados do usuário com a rede social. A atualização do WhatsApp descreve isso como “melhorias nos seus anúncios no Facebook e experiências de produtos.” O impacto nos usuários e em sua privacidade, por outro lado, vai muito além.

Se você usa tanto o WhatsApp quanto o Facebook, essa mudança dá ao Facebook acesso a várias informações suas do WhatsApp, incluindo o seu número telefônico, lista de contatos e dados de uso (por exemplo, quando você usou o WhatsApp pela última vez, em que dispositivo você usa ele e em qual sistema operacional o executa). Com um vocabulário confuso, a atualização aponta corretamente o seu número telefônico e suas mensagens não serão compartilhadas no Facebook. Isso significa que seus dados não serão divulgados publicamente em seu perfil no Facebook ou em qualquer outra parte da plataforma do Facebook. Em vez disso, ele será compartilhado com o Facebook — ou seja, os sistemas do Facebook e “a família de marcas do Facebook.” Embora a criptografia de ponta-a-ponta do Facebook permaneça e a empresa garanta aos usuários que não vai compartilhar seus dados diretamente com anunciantes, isso ainda apresenta uma ameaça real ao controle dos usuários sobre como seus dados do WhatsApp são usados e compartilhados.

Em sua primeira alteração da política de privacidade desde 2012, o WhatsApp oferece algumas motivações para justificar a mudança, incluindo a detecção de fraudes e spam, a contagem mais precisa de usuários únicos entre as duas plataformas e a permissão de comunicação “B2B” na forma de lembretes de agendamentos, atualizações de voo, recibos e outras notificações comerciais normalmente enviadas por e-mail ou SMS.

Mais crítico à privacidade do usuário, porém, o compartilhamento desse tipo de meta dado também dá ao Facebook uma visão mais detalhada das atividades de comunicação online, afiliações e hábitos dos usuários, e incorre no risco de tornar os contatos privados do WhatsApp em conexões mais públicas no Facebook. A nova política de privacidade, por exemplo, permite que o Facebook sugira contatos do WhatsApp como amigos no Facebook. O Facebook também pode usar os dados para exibir anúncios “mais relevantes”. Em um anúncio que acompanhou a atualização da política de privacidade, o WhatsApp oferece o exemplo de “um anúncio de uma empresa com a qual você já trabalha, em vez de uma de que você nunca ouviu falar” — uma perspectiva assustadora considerando que a coordenação e o compartilhamento de dados exigido para que o Facebook saiba com quais empresas você faz negócios.

Política de aplicação da lei fica devendo

Apesar desses usos ampliados para os dados do WhatsApp, a política para aplicação da lei do app não mudou junto com a sua política de privacidade. Em particular, o WhatsApp ainda não se comprometeu a oferecer avisos prévios aos usuários sobre pedidos de governos e da justiça pelos seus dados. Oferecer esse aviso é uma boa prática usada por toda a indústria e notamos que o WhatsApp já falhou em aplicá-la no passado.

Com empresas de tecnologia agindo com frequência como o único intermediário entre os dados do usuário e a justiça, a transparência delas no que diz respeito a esses pedidos é a única maneira de dar aos usuários a chance de conseguirem um advogado, lutar contra intimações muito abrangentes e entender quando e por que seus dados estão sendo acessados. Saber que uma certa empresa está comprometida a alertar os usuários pode, inclusive, fazer com que a justiça pare e repense sobre pedidos desnecessariamente abrangentes. Se o WhatsApp quer avançar com mais compartilhamento direto de dados com empresas privadas, ele também precisa estabelecer esse compromisso, há muito atrasado, em relação às autoridades públicas.

Mudanças permanentes e questões maiores

A partir da primeira vez que eles veem a tela de atualização no WhatsApp, os usuários do WhatsApp têm 30 dias para clicar na atualização da política de privacidade, optar por não compartilhar seus dados e impedir que o Facebook sugira amigos ou sirva anúncios baseados em dados do WhatsApp. Depois disso, eles têm outros 30 dias para alterar a configuração, caso queira. Mostramos como fazer isso no tutorial a seguir.

Desde o anúncio da nova política em 25 de agosto, porém, novas contas do WhatsApp não têm a opção de refutar esses usos expandidos dos seus dados. Em vez disso, a única opção disponível a novos usuários é ingressar no WhatsApp sob todas as regras da nova política de privacidade e o compartilhamento de dados que ela acarreta.

Atualizado em 14 de setembro para esclarecer os prazos para usuários já existentes mudarem suas configurações e a inexistência da opção de refutar o compartilhamento em novas contas criadas após 25 de agosto.

Tradução: Leon Cavalcanti Rocha and Rodrigo Ghedin.

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